[é assim como chamo aos poemas os quais não sei se se salvam. Então, enquanto não sei, servem de exercício ou para lembrar a mim mesma quem sou]
O poema
que não me habita
salta arisco
sobre o abismo
do meu nome
e mora
exato
no livro ao lado
(aquele, que não escrevi).
Foge de mim
como o diabo
da cruz.
Ri da minha insônia.
O poema
que não me habita
me alimenta
da sua ausência.
É o pão que deus amassou.
Bate na minha porta
e foge
inominável.
Não trepa.
Não goza comigo.
Não é meu amigo.
O poema
que não me habita
não deixa que um anjo
o anuncie
mas freqüenta
o espelho do banheiro.
É belo
e puro
e inacessível
como uma coluna grega
mas me tenta
há quarenta dias
nesse deserto.
E chega tão perto
que posso ouvir
sua respiração.
Chega tão perto
que quase o pego
roubo
digo que é meu.
Chega tão perto
que quase finjo
que mora comigo.
O poema que não me habita
é o diabo
no corpo
de outro
que não sou eu.
7 comentários:
Putz... Esses dias, esses dias mesmo vi uma variação disso aí de não salvar nem dia nem lugar cativo:
Poema que não escreverei
e quiser me asfixiar nesse vinho
de cor insone e vil
no lugar de quem, imune
às vertigens que de cor já sei
é palidez permanente
e a linha do tempo
e a mutilação sua não passassem
de uma só e mesma
emboscada de sempre
e quiser me vingar da ressaca
desse mineral tempo de sempre
ao lado de quem de beira
em eira devora-me apenas, meu querer
não sendo apenas e o mesmo
de quando eu fazia das tripas
dionísios e poemas
e neles me afogava só
e quiser me ter de boca pra fora
e respirar através de um poema
que jamais escreverei
com quem, de nunca o ter lido
jaza a um profundo
que nenhum levante do dia
venha a alçar
(não, não escreverei poema algum
nem antes, nem durante
nem mesmo depois que
a explosão desse dia fatídico
desfaça tudo e tudo emergir por nós)
Tive que colocar este belo poema na Lanterna.
Espero que não fiques zangada.
Abraço.
ZP
oi, Cícero! Que incrível não? Parecem poemas irmãos!
Belíssimo o seu!
Abs!
Pô, Micheliny, sacanagem, a gente se coloca lá numa terceira pessoa impessoal e você já entrega o jogo, digo, a autoria? rs.... Então tá, sejamos rigorosos: não parecem irmãos, parecem primos. Mas além de 3o. grau. Porque vai que o povo resolve taxar isso de nepotismo? Já viu, né?
Oi Mi, e vc que me disse ter perdido a poesia, esse é muito lindo, continue pra sempre. bjão amo vc.
Mary
Olaa !
Estava dando uma olhada no seu blog, e achei muitoo legal ! Parabens ! haha. Eu acabo de criar um blog com o intuito de utilizar a inspiração das pessoas despostas, para podermos criar uma história diferente, todos juntos ! Gosto do modo como escreve e peço uma forcinha ao meu blog, teria como compartilhar com idéias?
Haioshashio, se não, tudo bem =]
Obrigada de qualquer forma pela atenção. Um beijo Má *
MICHELINY, querida, estou no Recife. Espero você hoje, SEXTA, às 17 horas, na Livraria Cultura, quando lançarei o livro de contos "RASIF". Antes, no mesmo local e dia, às 15 horas, participo de um bate-papo com mais dois escribas. Apareça. Ficarei feliz e beijos, MARCELINO FREIRE.
Postar um comentário