18 outubro, 2008

Eloá

Para mim, não há como não ligar a triste e trágica história da menina Eloá Cristina, de Santo André, São Paulo, à da outra Eloá, personagem do poeta e novelista romântico francês Alfred de Vigny.

Publicado em 1824, esse poema narrativo conta a história de Eloá, anjo  nascido de uma lágrima de Cristo, a lágrima que ele derramou pela morte do amigo Lázaro. Vivendo no céu, Eloá não se contentava e queria, a todo custo, consolar as almas sofredoras do inferno e, quem sabe, até salvá-las. Um dia, encontra um anjo belíssimo e triste, cujo sofrimento a toca no coração. Ela se apaixona por ele, que não é outro senão Lúcifer. Ingênua como uma menina, Eloá acredita que poderá ser a redenção do diabo e se perde para sempre no abismo do inferno.

Como muitas mulheres, infelizmente, Eloá acreditou que o amor pode tudo, até converter o mal em bem. É um mito atual, conforme apontam as estatísticas da violência contra a mulher em todo o mundo. O pior é saber que não é preciso um seqüestro de mais de 100 horas, com cobertura sensacionalista e, às vezes irresponsável, da mídia, além de um tiro na cabeça. para que as muitas eloás se percam no abismo da violência. 

imagem: katerina belkina

3 comentários:

Anônimo disse...

Doidera, né? Olha... só com o desfecho trágico é que me dei conta da dimensão da coisa (antes, a cada dia naquele lenga-lenga, eu só ficava: pqp, a polícia não invadiu ainda?!) Mas pelo andar da carruagem, aquela coisa arrastada e com todo aquele ranger, como você bem o disse, sensacionalista, já devia ter imaginado que mesmo na hora da ação decisiva esta seria de um completo amadorismo. (Hum, um comentário insensível, não é? Se é, no fundo é fácil explicar minha insensibilidade: é que me encontro "afastado" e bem a salvo dessa lenga-lenga possessivo-amoroso, das trágicas e das ridículas e inofensivas, tem um bom par de anos. Então pra mim esses assuntos só se resolvem mesmo com medidas tecno-operacionais e pronto. Hum, quem sabe voltando a ler Do Amor do Sthendal eu me emendo...rs.)

Mas aí você até que levantou uma bola pertinente. Ainda que eu desconfie muuuito da generalidade desse sintoma romântico entre as "nossas atuais meninas", é fora de dúvida que a possessão amorosa masculina, quando contrariada, ainda escancara, quase sempre procurando empunhar "armas" para a aniquilação completa do seu objeto amoroso. Doidera, né?

Zé Paulo Gouvêa Lemos disse...

Nesta tragédia, muita coisa reforçou como o ser humano é realmente pouco humano, partindo pela postura do sequestrador, e de como se lidou com a sua loucura.
É claro que o fim de Eloá é o que me mais bate, mas a irresponsabilidade da imprensa na cobertura do caso é uma das maiores nódoas da imprensa brasileira. A ela poderá se dar parte da respnsabilidade pelo fim trágico deste sequestro.
Se o Coronel Eduardo Félix possa ter falhado na liderança da sua equipe as investigações dirão.
Mas não há necessidade de investigação alguma para se analisar as imagens criminosas que a maioria das TV's transmitiam, inclusive mostrando detalhes da movimentação policial, que o sequestrador acompanhava na TV.

Zé Paulo

Wilson Torres Nanini disse...

Não há nada mais triste do que uma vida interrompida precocemente. Ainda mais quando são empunhadas razões precárias como um amor incontrolável. Os abutres da imprensa se abateram com muita fome sobre a tragédia previsível da pobre moça, que nem teve tempo de experimentar todas as maravilhas que há num relacinamento sadio entre duas pessoas que se amam. Acredito que a ação policial foi muito tênue em comparação com a energia que a circunstância impunha e exigia, mas quando uma vida tão jovem é tirada, todos os elementos culpados são postos de lado para que nosso coração se abra num oceano de lágrimas. Não tenho palavras...