29 março, 2007

Lendo W.G. Sebald




Estou terminando de ler "Os Emigrantes", de W.G. Sebald. O autor me foi indicado por Susan Sontag, no seu "Questão de Ênfase". O livro me assombra pela densidade, tristeza e por uma cicatriz de realidade que me faz, enquanto leitora, transitar entre certezas e incertezas. Escrito em primeira pessoa, o livro traz relatos de viagem de um autor-narrador que tem mesmo a clara intenção de (con)fundir ficção e realidade. São quatro histórias de imigrantes, nas quais o fato de ser estrangeiro em algum lugar (e todos somos, tenho certeza) é uma via dolorosa de fragmentação, perdas e busca incessante e deseperada por unidade, recomposição.

Sebald é um narrador magistral. Sua escrita é extremamente contemporânea e eu gostaria muito de ver as histórias de "Os Emigrantes" articuladas num filme. Ele une texto e imagem de uma forma pungente ( o livro é recheado de fotos que reforçam a percepção de realidade) e creio que algo no estilo de "As Horas" (que essa semana aprendi se tratar de um "multiplot") cairia bem.

Um dado curioso é que esse encontro com "Os Emigrantes" vem num momento em que estou estudando o suicídio, tema que o autor também trata. Eu não sabia disso antes de começar a ler. Isso reforça uma crença que tenho de que quando você começa a estudar algo com mais afinco, esse algo passa, também, a te procurar.


W.G. Sebald, alemão de Algäl, morreu num acidente automobilístico em 2001 no auge de sua produção.

Sua obra:

Nach der Natur. Ein Elementargedicht (Sobre a Natureza, um poema elementar, 1988, inédito em Português);
Schwindel.Gefühle (Vertigens,1990, inédito);
Die Ausgewanderten (Os Emigrantes, 1993, Record, 2003)
Die Ringe des Saturn (Os Anéis de Saturno, 1995, Record, 2004)
Austerlitz, 2001 (inédito)
Unerzählt 33 Texte, 2003, inédito)
Campo Santo, Prosa, Essays, 2003, inédito).

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