28 junho, 2010

Sobre morrer: Um olhar do paraíso - Primeira Parte

imagem: frame do filme Um olhar do paraíso


A literatura e o cinema, entre outras áreas de expressão artística, têm leituras muito próprias do que acontece logo depois do último suspiro. Independente de crença ou mesmo descrença não conheço ninguém que nunca tenha especulado sobre a chamada vida pós-morte, um dos mistérios fundamentais que cercam nossa existência.

Não por acaso esse tema sempre cercou meu fazer, meu pensar sobre o mundo e desde muito cedo na minha vida me incomodou que algo tão certo e inexorável fosse tão temido, tão cercado de tabus. Não que eu não tema a morte, mais as de quem eu amo do que a minha própria, mas que tenho uma certa curiosidade sobre como vai ser quando for a minha vez.

Há muito anos atrás tive um sonho perturbador. Um sonho que daria um filme, muito antes de O Sexto Sentido, Amor além da vida e de Um olhar sobre o paraíso. Sonhei que eu andava numa das avenidas principais da minha cidade preocupada com o fato de estar sendo seguida há alguns dias por um homem misterioso. Em determinado ponto do meu percurso eu me deparava com uma ruazinha estreita  e escura e ponderava que seria melhor evitar esse caminho pois ali seria uma presa fácil. Dei meia volta e segui para casa. Então, encontrei dois amigos que estavam com lágrimas nos olhos e de suas falas pude entender que algo terrível acontecera e que eles estavam indo para o mesmo destino que eu. Acompanhei-os sobressaltada e quando chegamos havia uma considerável aglomeração em torno da minha casa. Assustada com a possibilidade de algo trágico eu atropelei as pessoas até chegar em minha mãe que chorava sem consolo. Eu falava, ela não respondia. Eu perguntava e não tinha qualquer resposta. Então olhei em frente e vi meu corpo sendo velado. Só aí, numa espécie de flashback, eu entendia tudo o que havia acontecido. Eu não havia evitado a ruazinha e tinha sido estrangulada pelo homem misterioso. O percurso que eu  havia feito era o de uma alma perdida em busca de compreensão sobre o que acontecera e quando eu encontrara meus amigos eles não tinham de fato falado comigo mas sobre mim e sobre o que me acontecera.

Nunca esqueci esse sonho por ter sido ele muito nítido e cheio de sentido, e é sobre sua premissa que os filmes que citei se baseiam, ou seja, a de que morrer é entrar, nem que seja num primeiro momento, numa dimensão paralela entre essa existência e uma outra e que esses "mundos" de certo modo coexistem e se tocam ainda que imperfeitamente. Talvez isso seja uma espécie de memória arquetípica que compartilhamos, o que pode explicar que pessoas diferentes e que não se conhecem tenham pensado basicamente a mesma coisa. Não sei.

Ontem  assisti ao filme Um olhar do paraíso, apesar das críticas negativas que li  na ocasião do seu lançamento. Ver esse filme me relembrou esse sonho e as emoções que vivi (sim, vivi) no mesmo. Enfim, me pôs a pensar no imponderável e na fragilidade da vida. Em breve voltarei a falar do filme e de coisas e referências que percebi no mesmo, mas por enquanto é isso, o filme me deu o que pensar e o romance que lhe deu origem será minha próxima leitura.

Um comentário:

Wilson Torres Nanini disse...

Vou-lhe contar uma história que me fez deixar de ser católico para testar outra textura religiosa. Minha mulher, com fortes tendências mediúnicas, aos três anos de idade, disse à mãe que havia um "fantasminha" no seu quarto. A mãe, acreditanto que era uma desculpa da criança para dormir com os pais, lhe disse "faz amizade com o fantasminha!". Dias depois, a Carol retomou o assunto: "Mãe, lembra do fantasminha no meu quarto?" A mãe: "Lembro! E aí, já fez amizade com ele?" "Sim! ´Ele` me disse que é minha bisavó Cristina, que era polonesa, morreu na 2ª Guerra e veio me conhecer." Minha sogra caiu da própria altura. Foi a primeira das muitas "aparições" que minha mulher viu.

Abraços!!!