Confesso que sabotei a leitura, para não terminá-lo em 2 ou 3 dias. Quis aproveitar ao máximo a mistura entre técnica e talento de sir McEwan.
Alguns comentários:
- Com relação ao filme, Desejo e Reparação, tiro o chapéu ao roteirista que soube transpor para a linguagem outra do cinema não só o esqueleto da construção narrativa do livro e seus tempos e olhares múltiplos, como também toda a, digamos, paisagem emocional que perpassa a história. Parabéns para Cristopher Hampton!!!
-Embora o filme seja magnífico e fiel, o livro é impressionante. Uma aula de como fazer o bom romance contemporâneo. Embora se possa perceber a extensão do trabalho de pesquisa empreendido pelo autor, no que diz respeito à II Guerra Mundial, às rotinas da enfermagem pós-Florence Nightigale, entre outras coisas, nada disso soa artificial, deslocado. Pelo contrário, você percebe a pesquisa, ela está posta de modo a ser percebida, como se o autor dissesse "é ficção, mas também é documento" e é isso que o torna, por incrível que pareça, mais próximo do verossimilhança.
-Como em Sábado, do mesmo autor, a metalinguagem é uma presença constante. Se naquele, a discussão girava em torno do fazer poético, em Reparação se discute as fronteiras entre vida e ficção, sua ética (se é que pode haver), os caminhos e descaminhos do romance contemporâneo.
-Algumas imagens constituem mesmo o que se chama de "metáforas poderosas". Uma delas, que atravessa a narrativa, é a da menina Briony, com seu vestido branco sujo de lama, pouco antes da sucessão dramática de eventos e erros: um prenúncio da inocência perdida para sempre, do crime que em breve vai cometer, das mãos que permanecerão, por toda a vida, sujas de sangue.
-Para um escritor não há como não compreender as atitudes de Briony. Ela é movida pela ficção e isso determina que se acredite que esta não apresenta realmente grandes diferenças da chamada vida real. Eu, por exemplo, sinto uma forte empatia pela personagem, e posso, sem dúvida, me reconhecer nela tanto na perversidade ingênua que a move, como na obsessão pela exatidão da palavra. Entretanto (e aqui voltamos a uma questão já colocada, embora não aprofundada), a vida cobra seu preço.
Enfim, recomendo sem ressalvas.
10 comentários:
Preciso ler os dois correndo. Programão pra o carnaval.
E cadê o Alfabeto do Bom Cidadão?
vou descobrir o livro por aí... ando lendo pequenas doses de botequim... esta semana tem bebedeira ficticia com a Musa Chapada do Ademir... beijoproceês
Passei batido, Micheliny! Só agora percebi. Abs!
OI Michelini!
Quando li este comentário sobre esta obra, que acabou tendo uma versão para o cinema, não pude deixar de ver o filme. Realmente é impressionante! Não li o livro, mas o fato de um homem escrever essa história me impressiona. Como ele consegue entrar no universo feminino do desejo?. E a reparação em forma de uma ficção revelado no fim do filme me fizeram perceber, que escrever é muito mais que traduzir simples espasmos da alma. É preciso muito estudo e dedicação.
Por um acaso você já viu o filme argentino Lugares Comuns? vou postar alguma coisa sobre ele no meu blog.
Um abraço!
Moiséz
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