08 fevereiro, 2009

Sobre Reparação




Terminei de ler o  livro.

Confesso que sabotei a leitura, para não terminá-lo em 2 ou 3 dias. Quis aproveitar ao máximo a mistura entre técnica e talento de sir McEwan.

Alguns comentários:

- Com  relação ao filme, Desejo e Reparação, tiro o chapéu ao roteirista que soube transpor para a linguagem outra do cinema não só o esqueleto da construção narrativa do livro e seus tempos e olhares múltiplos, como também toda a, digamos, paisagem emocional que perpassa a história. Parabéns para Cristopher Hampton!!!

-Embora o filme seja magnífico e fiel, o livro é impressionante. Uma aula de como fazer o bom romance contemporâneo. Embora se possa perceber a extensão do trabalho de pesquisa empreendido pelo autor, no que diz respeito à II Guerra Mundial, às rotinas da enfermagem pós-Florence Nightigale, entre outras coisas, nada disso soa artificial, deslocado. Pelo contrário, você percebe a pesquisa, ela está posta de modo a ser percebida, como se o autor dissesse "é ficção, mas também é documento" e é isso que o torna, por incrível que pareça, mais próximo do verossimilhança.

-Como em Sábado, do mesmo autor, a metalinguagem é uma presença constante. Se naquele, a discussão girava em torno do fazer poético, em Reparação se discute as fronteiras entre vida e ficção, sua ética (se é que pode haver), os caminhos e descaminhos do romance contemporâneo.

-Algumas imagens constituem mesmo o que se chama de "metáforas poderosas". Uma delas, que atravessa a narrativa, é a da menina Briony, com seu vestido branco sujo de lama, pouco antes da sucessão dramática de eventos e erros: um prenúncio da inocência perdida para sempre, do crime que em breve vai cometer, das mãos que permanecerão, por toda a vida, sujas de sangue.

-Para um escritor não há como não compreender as atitudes de Briony. Ela é movida pela ficção e isso determina que se acredite que esta não apresenta realmente grandes diferenças da chamada vida real. Eu, por exemplo, sinto uma forte empatia pela personagem, e posso, sem dúvida, me reconhecer nela tanto na perversidade ingênua que a move, como na obsessão pela exatidão da palavra. Entretanto (e aqui voltamos a uma questão já colocada, embora não aprofundada), a vida cobra seu preço.

Enfim, recomendo sem ressalvas.



10 comentários:

Héber Sales disse...

Preciso ler os dois correndo. Programão pra o carnaval.
E cadê o Alfabeto do Bom Cidadão?

: A Letreira disse...

vou descobrir o livro por aí... ando lendo pequenas doses de botequim... esta semana tem bebedeira ficticia com a Musa Chapada do Ademir... beijoproceês

Héber Sales disse...

Passei batido, Micheliny! Só agora percebi. Abs!

as estações na cidade disse...

OI Michelini!

Quando li este comentário sobre esta obra, que acabou tendo uma versão para o cinema, não pude deixar de ver o filme. Realmente é impressionante! Não li o livro, mas o fato de um homem escrever essa história me impressiona. Como ele consegue entrar no universo feminino do desejo?. E a reparação em forma de uma ficção revelado no fim do filme me fizeram perceber, que escrever é muito mais que traduzir simples espasmos da alma. É preciso muito estudo e dedicação.

Por um acaso você já viu o filme argentino Lugares Comuns? vou postar alguma coisa sobre ele no meu blog.

Um abraço!

Moiséz

as estações na cidade disse...
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as estações na cidade disse...
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as estações na cidade disse...
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