08 junho, 2007

choque frontal






Head On é o nome dessa instalação do artista chinês radicado em NY, Cai Guo-Kiang. A obra, exposta ano passado no Museu Guggenheim de Berlim é impressionante. São 99 lobos construídos em material sintético (e, ao que parece, peles de cordeiro) segundo as indicações do artista e que, num impossível salto no ar chocam-se contra uma parede de vidro.

Talvez uma metáfora para sonhos que se despedaçam, os lobos de Kiang são extremos, fortes, dolorosos e... ambíguos. Falam de uma natureza selvagem que perdemos e de um heroísmo cego de que somos [ainda] capazes. São lobos em pele de cordeiro como cada um de nós, com tudo de paradoxal e contraditório que é existir, especialmente nesse mundo contemporâneo em que a guerra nossa de cada dia faz-nos, todos, inimigos [heróis?] de nós mesmos. São, também, lobos que se sonham puros como na visão do profeta Isaías. Ah, mas sempre restará, e nisso não somos ingênuos, os dentes vermelhos de sangue.

Qual a função da arte no pós-tudo nosso de cada dia?

A de sempre. Ou antes, a da origem da arte: apanhar-nos pelo desvio, pelo que há de surpreendente e maravilhoso no desvio. Bater-nos na cara, com suas luvas de pelica. Moer-nos em sua "máquina de comover".

E isso, Head On consegue.

E é extremamente gratificante ter nascido nesse tempo e dividi-lo com alguém como Cai Guo-Kiang.

[crédito: China Dayle]

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