27 fevereiro, 2007

Qual é o filme da sua vida?




Aquele filme que ficou gravado para sempre em sua memória? Aquele que mesmo depois da milionésima vez ainda comove com a mesma força e magia? Qual é o seu filme?

O meu, vi uma única vez e se gravou tanto em mim que por muito tempo ( e talvez, ainda hoje) achei que eu o tinha vivido, ou sonhado. Chama-se "Dodeskaden" e é dirigido por Kurosawa. Nesse filme várias histórias se cruzam numa favela em Tóquio e há uma, em especial, que me mobiliza as emoções. Um mendigo e seu filho moram dentro de um carro. O amor entre eles é visível, quase palpável, no projeto que têm em comum: a construção de uma mansão imaginária, a casa, aquele espaço de acolhimento, de que fala Bachelard:

"Alojado em toda parte, mas sem estar preso a lugar algum: essa é a divisa do sonhador de moradas. Na casa final como em minha casa real, o devaneio de habitar se vê logrado. É preciso sempre deixar aberto um devaneio de outro lugar. Então, que belo exercício para a função de habitar a casa sonhada é uma viagem de trem!"

Esse trecho, escrito por Bachelard em 1957, está em "A Poética do Espaço" e parece cair como uma luva para "Dodeskaden" (que por sinal é uma onomatopéia para o barulho de um trem). O filme foi rodado em 1970, se não me engano. Talvez Kurosawa o tenha lido, quem sabe?!

Mas, voltemos ao enredo.Todos os dias, pai e filho erguem uma parede ou acrescentam uma janela ou adicionam um detalhe ao jardim. Pai e filho são transfigurados pelo amor e pela felicidade no ato contínuo (e nunca acabado) de construir essa casa. A mansão é feita de luz e se constitui a metáfora de família mais perfeita que o cinema já nos deu, a meu ver, numa daquelas imagens maravilhosas e de um colorido tão irreal que só é possível na paleta de Kurosawa. Nunca mais revi esse filme porque ele é tão meu, tão íntimo, que acredito não precisar de outra obsessão.

E você, qual é o filme da sua vida?

9 comentários:

Anônimo disse...

Tão difícil escolher um filme entre tantos, mas Derzu Uzala, também do Kurosawa e Cinema Paradiso, mexeram comigo de alguma forma inexplicável. Os trago até hoje em mim.

Anônimo disse...

Ah, deixa eu incluir um mais recente, por favor! Brilho eterno de uma mente brilhante nos mostra as lembranças sobrepostas da mesma maneira como elas nos vêm, muito interessante! As interpretações são também muito boas.

Dani disse...

Sociedade dos Poetas Mortos

Micheliny Verunschk disse...

Oi, Olga! É Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, filme pertubador! Quanto a Sociedade dos Poetas Mortos, revi tantas vezes que perdi a conta. Um bom filme é assim. Não cansa.

Anônimo disse...

Micheliny, misturei os filmes (rs), mas a sua definição é perfeita e definitiva: pertubador!

Anônimo disse...

Não querendo ser chata, mas...Faltou um "r" no perturbador.

Anônimo disse...

Não querendo ser chata, mas...Faltou um "r" no perturbador.

Micheliny Verunschk disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Micheliny Verunschk disse...

Claro, perturbador. Na pressa sempre sobram (ou faltam)uns "esses" e "erres". Toques como esse são necessários pois acabo sempre fazendo a revisão depois. Obrigada, Olga.