12 agosto, 2011

Barbárie: Em Londres, nas ruas do Brasil, nos Paquistões do mundo



Não sei se sou alarmista ou pessimista. Possivelmente nem uma coisa nem outra. No entanto ao assistir por 10 minutos qualquer noticiário que seja me convenço que o mundo se torna cada vez mais um lugar perigoso para todas as espécies, sobretudo a humana.

Barbárie, eu sei, sempre existiu desde que o mundo é mundo, desde que o primeiro hominídeo rachou a cabeça do outro por futilidade, raiva, inveja, o que seja.

Os recentes conflitos em Londres me espantam não por serem em Londres, não por acontecerem num país de "primeiro mundo", mas por alguns depoimentos de jovens que dizem "não saber o que os motivou a depredar, roubar, matar". Não, não creio que isso seja fruto apenas de uma força irracional e primitiva e acredito que há motivos muitos fortes pelo qual o Estado quer se eximir. Jovens estrangeiros oprimidos, sem um Estado que os valha, falta de perspectiva, preconceito, racismo. Acho que isso já ferve o caldeirão, ou não? Mas penso que a falta de politização desses jovens, a alienação em que nossas gerações mais recentes vivem engrossa o caldo e ainda é responsável por esse "desconhecimento"das causas que levam a matar, depredar, roubar. Há poucos anos atrás  em São Paulo, a Avenida Paulista viveu distúrbios parecidos (mas em menor extensão de tempo e danos) devido a uma mal-sucedida partida de futebol...

Por falar em Brasil, aquilo que chamo caretização da sociedade e, sobretudo da juventude brasileira, me preocupa. No país da piada pronta tudo é motivo de um certo riso desdenhoso e perverso, basta ver o sucesso que fazem programas de TV como o CQC e seus côngeneres. Mas o que podemos esperar de um país onde a burrice e a arrogância são exaltadas? Onde ser celebridade é um dos mais altos ideais? A nação do "povo cordial" tem escancarado seu preconceito, despeito e desrespeito pelas minorias. A nação do "povo cordial" me parece cada vez mais afundada na intolerância e hipocrisia.

O historiador Eric Hobsbawm no ensaio Barbárie: Manual do Usuário faz uma análise profunda desse mal que vem se alastrando sobretudo a partir do século XX. Em certo ponto ele diz que o que herdamos da moral dos anos 1970 foi a ideia de que a barbárie é mais eficaz que a civilização. E ainda:

"Sob tais circunstâncias de desintegração e política, devemos esperar, em todo caso, um declínio na civilidade  e um crescimento na bárbarie. Entretanto, o que torna as coisas piores, o que sem dúvida as tornarea piores no futuro, é o constante desmantelamento das defesas que a civilização do Iluminismo havia erigido contra a barbárie (...). O pior é que passamos a nos habituar ao desumano. Aprendemos a tolerar o intolerável".

Que se matem civis desarmados, que se arranquem os dedos dos inimigos para colecionar, que se matem  mulheres e se dêem aos cães os seus restos mortais, que se matem crianças de fome, de guerra, de pervesão, que se matem os negros por serem negros, os homossexuais por querer amar.

São essas as bandeiras do nosso tempo? É essa a herança que deixaremos?

Já vivemos isso antes. Já vimos como os totalitarismos se aproveitam dessa sanha ignorante. Não é possível que deixaremos tudo acontecer novamente.

4 comentários:

Ana Lins disse...

Uma vez me disseram que a humanidade evolui como o movimento de um parafuso. E, parando pra olhar esse déjà vu de novo e de novo, parece que a teoria faz sentido. As coisas se repetem - só espero que a profundidade do que pensamos a respeito aumente também, como um parafuso vai mais fundo a cada volta.

Ehre disse...

Caríssima, quantas vezes eu acordei com esses raios n'alma sem ter dormido? Mas você se lembra de "O Jantar"? Sabemos, Mi, que as janelas são maiores que a barbárie. São e serão. Paz e bem e beijo.

Anônimo disse...

Concordo com voce, agente tem que dar um pau nesse povo safado!

Dáfni disse...

Mimi, eu nem tenho o que acrescentar ao seu ótimo texto. Venho pensando sobre isso, sobretudo por trabalhar com estes jovens, e ver que não há um planejamento para o futuro, um respeito ao ser humano em geral, uma ânsia em conhecer e aprender. Me entristece muito, mas vejo que este mundo do agora, dos 15 minutos de fama, está cada vez mais enraizado nestas pessoas, e nas gerações vindouras (que serão criadas por esta).

Tristeza.

Beijos