14 dezembro, 2008

breves comentários sobre 2008

A eleição de Barack Obama


Torci, e muito, para que Barack Obama fosse eleito presidente dos EUA. Acho que é um momento histórico único e fiz coro com o resto do mundo: Yes, we can!


No entanto, acho que eleger uma pessoa negra como presidente da "maior potência política e bélica" apenas em 2009, já no século XXI, só demonstra o quanto ainda estamos atrasados em questões de direitos civis iguais e oportunidades para todos.


Acho que sim, há muito o que se comemorar, mas sem perder de vista de que ainda há muito o que se conquistar em termos de cidadania e garantias para as minorias.


Uma outra coisa. Não dá para esquecer que Obama é presidente de uma nação autoritária e de longo histórico intervencionista. Ele não fará milagres e tem um trabalho árduo pela frente, principalmente porque as expectativas são muitas. Então, creio, que não é demais dizer ao mundo: devagar com o andor!


Sobre a banalização da violência
Na semana que passou, o júri popular absolveu um dos policiais militares que fuzilou o menino carioca João Roberto, de 5 anos, sem chances de fuga ou de defesa ao confundir o veículo da família com outro carro que perseguiam.

Quando o povo dá, assim, passe livre para matar, é porque realmente a sociedade está muito doente. Isso é escandaloso! Não apenas a absolvição em si, mas o fato de que vive-se numa cadeia antropofágica em que, bobeou, você é devorado debaixo das palmas do público faminto.

E não importa se é uma criança, um bandido, um transeunte descuidado. Como vive-se em função do medo, qualquer saraivada de balas se justifica.

O Rio de Janeiro é uma metáfora do Brasil:
Viva o carnaval! A família real! A fama instântanea e o futebol!
Pim, Pam, Pum! Cada bala mata um! Puxa o rabo do tatu! Quem saiu foi tu!

A 28ª Bienal e a falácia do contato com a vida
Não fui à Bienal, por absoluta falta de tempo. Entretanto tenho acompanhado os lances da prisão da pichadora Caroline Pivetta, presa há quase dois meses por pichar um salão em branco que, "conceitualmente", estaria aberto à manifestação e performances de artistas (artistas convidados, diga-se de passagem).

Seria, "conceitual e teoricamente" um espaço aberto à arte viva.

Seria, falsamente ( e muito falsamente) , um lugar aberto a manifestações viscerais.

Caroline fez parte de uma ação da qual participaram vários pichadores. Jovens, que se comunicam com a cidade e a sociedade com seus garranchos e garatujas, é verdade, mas que transformam os espaços urbanos, de fato, em espaços vivos, em lugares ocupados. Se sua comunicação é vazia, como acusam muitos, nem por isso é menos legítima que a comunicação dos chamados artistas contemporâneos ou de vanguarda. E por que seria? Por que não a compreendemos?

Quando se joga o poder de polícia e de repressão em jovens que, sim, tem algo a dizer, por mais incompreensível que seja, só se aprofunda o fosso entre aqueles que deveriam ser iguais entre si.

Em tempo, só Caroline está presa e a parede pichada foi repintada sem qualquer dano ao patrimônio público.

(Para assinar a petição por sua liberdade, clique aqui)

Um comentário:

Anônimo disse...

where you come from!