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01 fevereiro, 2013

Diante do altar dos sacrifícios



Em memória das mulheres mortas
no campo de algodão
cantemos a semente inviolada.
Em memória de Verônica adormecida
em sua infância eterna
cantemos a casa indestrutível.
Em memória de mim
e de minha irmã
e de minha prima
e de minha amiga
que tombamos
entre o ranger dos ossos
e o assobio dos tiros
cantemos ainda.
Cantemos a memória
e a nossa antiga avó
pega a laço.
Cantemos a memória
e as unhas extirpadas
no quarto de despejo
da velha ditadura.
Cantemos a memória
essa cadela
que
[22 balas
11 perfurações à faca
àcido no rosto
carne infibulada]
não morre
não morre nunca.

3 comentários:

  1. L-i-n-d-o esses olhos abertos(e vivos)sobre essas mulheres diante da morte dilacerante que assalta nossas vidas. Para teu olhar, trago sempre-vivas em reverência. Beijos, Mi.

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  2. Demais, Micheliny!


    Beijo enorme!

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  3. Obrigada pela leitura, Carla Diacov e ehre!

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